Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Cecília Meireles

Atormentado pelos clamores impiedosos de Narciso, acorrentado aos jazigos de Thânatos e amaldiçoado pelas pragas da Discórdia, o humano padece em leitos cada vez mais sombrios e pútridos, mormente, nos calabouços da pós-modernidade. 

A era do ressentimento, as estações da dor e o império do vazio têm assombrado homens e mulheres, jovens e adultos, crianças e idosos, exaurindo-lhes o corpo, esmagando-lhes os afetos, fazendo-lhes reféns silenciosos das moções pedregosas de Sísifo. Doravante, a natureza agoniza, soterrada pelas rochas da repetição, e a Cultura, inebriada pelas ilusões, decanta a falência das subjetividades. 

Será que, nas calendas do contemporâneo, os aromas benfazejos das Deusas primais desapareceram ou, numa percepção mais generosa, estarão aprisionados em bosques austeros, à espera de entes mágicos, aptos a sorverem o invernal odor do Outono? 

Como nos testemunha Melanie Klein, é da natureza de Eros, quando absorto nas paisagens da onipotência – mundos frequentemente erigidos pelo Capitalismo, depravado e (des)objetificador –, a encantadora disposição ao horror, cujas flechas deterioram em sua aljava, já acinzentada pelo rancor e pela indiferença. Será possível apreender e compreender as insígnias desse mal-estar, limítrofe e bordejante, que satura o self e sulca, com virulência assustadora, as frágeis redomas da consciência. Resta-nos, quiçá, a resignação, o alento e a angústia de sermos, unicamente, peças, marionetes, objetos, fantasmas, que se movimentam debalde em busca de respostas. 

A 1ª edição do Congresso Nacional de Literatura e Psicopatologia pretende, com sensível abnegação ao saber, escavar o terreno das literaturas (e de todas as artes), com vistas a descobrir novas (ou antigas) indumentárias sobre a árdua experiência de (re)existir. E o LIGEPSI, como anfitrião, convida pesquisadoras e pesquisadores, de todas as áreas, para, juntos, nos lançarmos nesse intenso e sedutor empreendimento.